sexta-feira, setembro 21

Sr. Américo e a RTP


«Qualquer dia, estes gajos tiram-nos tudo» é o que diz o meu pai, Sr. Américo, sempre que o assunto do Serviço Público e RTP vem à baila. E eu concordo.

Mas que raio é o Serviço Público? Este assunto de obsessão que ultimamente tem assombrado o governo não pode ser considerado aquilo a que estamos habituados pensar que é. Se Serviço Público é transmitir informação sobre Portugal e Mundo, montar reality shows, concursos de adivinhas e tops de música comercial, passar campeonatos de futebol, filmes de pipoca, mais campeonatos de futebol, falar da vida dos outros, da moda e de mais assuntos cor-de-rosa; então, aquilo que pensam sobre serviço público, na verdade, não se trata de Serviço Público. Óbvio. E se Serviço Público é essa treta toda, ele não estará ameaçado com a concessão ou privatização da RTP porque existem outros dois canais televisivos que asseguram esse tal serviço público.

Ou seja, para a Cultura e para o verdadeiro Serviço Público privatizar a RTP actual é igual ao litro. Acabará por se tornar no terceiro canal industrial a praticar e a contribuir pouco para o Serviço Público, no fundo, como já o é.

Solução? Condicionar a RTP é uma medida bem-vinda quando se estiver a falar de abolir espaços e programas televisivos que não são Serviço Público: ao retirar concursos da treta, experiências matinais sobre a vizinha do lado que deixou o almoço queimar e campeonatos de futebol, teríamos um canal a praticar verdadeiramente Serviço Público, isto é, conteúdos extremamente bem definidos, emprestando informação institucional e nacional, promovendo a identidade nacional e o debate de assuntos de qualidade. Isto sim é Serviço Público e a única medida regeneradora abraçada pelos portugueses.

Mas para esta medida condicionadora ser aplicável, tem que se dar um final trágico à coisa: despedimentos. Só através de despedimentos se ajustam negócios. Despedir trabalhadores é a maneira mais fácil encontrada pelas empresas para reduzir custos e, com ou sem privatização, é o que acabará por acontecer na estrutura da RTP. Despedir, ponto. O Governo está só a prepará-lo. É inevitável.

E o meu pai tem razão: qualquer dia, tiram-nos tudo.

 

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