quarta-feira, setembro 5

«Já alguém convidou o marginal para ir tomar café?»

Nos últimos dias tenho dado por mim a pensar no quão diferente é a minha vida dos restantes jovens. Bom, o que me faz ser diferente, na verdade, é uma opção. Uma opção que, a meu ver, é uma pequena opção. Não passa disso. Mas para os meus amigos e prováveis amigos, é uma escolha tremendamente louca que transforma a forma como olham para mim.

Optei por não ter facebook. Nunca vi necessidade de integrar uma rede social, sendo que sempre achei não precisar de conhecer mais ninguém ou de estar permanentemente ligado a um computador para relacionar-me com as pessoas. No entanto, sinto-me realmente descontextualizado, à margem dos acontecimentos e da últimas mais importantes sobre isto ou aquilo. E o sentimento de marginalizado aumenta quando os meus amigos e prováveis amigos sabem da minha opção. Quando estamos sentados num café a conversar, qualquer assunto culmina num circulo fechado à volta da mesa, ao qual eu não faço parte. Esse assunto torna-se desviante quando qualquer um dos meus amigos ou prováveis amigos diz que publicou uma coisa no facebook. De repente, todos sentem-se senhores da palavra e desenrolam o assunto, enquanto eu - já por hábito - finjo atar os atacadores ou ajeitar o cabelo. O assunto, publicado no facebook, leva a outro com origens surpreendentes no... facebook. Tento não ficar de fora e procuro na minha memória algum assunto que esteja em voga, que até seja mais ou menos de grande amplitude. Porém, fracasso sempre porque para os meus amigos e prováveis amigos, o assunto já passou à história.

E isto acontece em média de 5 em 5 minutos (ou menos). Imaginem quantas vezes tenho de atar os atacadores, despentear e voltar a formatar o penteado. Mas isto é com os meus amigos. Veremos agora o que se sucede com os meus prováveis amigos - aqueles com potencial para eu me tornar amigo, através de uma conversa e troca de ideias.

Quando me encontro com amigos de um amigo meu, quase como por fatalidade do destino, as conversas acabam com esta expressão: «o quê, meu, não tens facebook?». Já nem vale a pena tentar explicar a razão pela qual abdiquei de não pertencer a uma rede social, sendo que já tomei por adquirida a resposta ou comentário desses prováveis amigos: «como é possível?!». Nessa altura, afasto-me. De facto, sou sempre o último a saber de um evento e o último a ser convidado seja para o que for. Aceito a marginalização, pois é como me sinto e como olham para mim: como é possível viveres sem facebook?. Eu cá tenho sobrevivido e julgo não ser um animal há vários anos em cativeiro (julgo eu, não é?).

Se me perguntarem se resisto à tentação de criar conta numa rede social -  e isto admitindo que, por vezes, acuso a pressão -, respondo não sei. E não sei mesmo: às vezes, desconectado com a actulidade, quase que cedo à tentação e digo sim à aventura da partilha; outras, marginalizado e longe da galáxia "facebookiana", sabe-me bem ser diferente. É bom ser diferente, tiro gozo disso embora saiba que deixo de fazer parte daquele círculo imaginário vanguardista. Quero dizer, eles sabem sempre mais do que eu e, como pertencem à comunidade, dominam com maior facilidade os seus assuntos. Como é que se retira gozo disso? É bom ser marginal até no próprio grupo de amigos. Pelo menos sei que o convite para ir tomar café é especial e diferente dos restantes; têm que ter uma preocupação extra em usar outros meios para convidarem. Isso chega para me sentir bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário